A examinação primária serve para identificar condições e lesões que coloquem a vida em risco e para implementar medidas de emergência. Isto é realizado imediatamente depois de se abordar a vítima, o que inclui uma avaliação do seu estado de consciência, da respiração e obstrução das vias aéreas, da pulsação e da sua condição geral.
Verificar o estado de consciência
Uma pessoa consciente responde a perguntas como “Consegue ouvir-me?”, “Qual é o seu nome?”, “Está tudo bem?”, “O que aconteceu?”. A vítima consegue falar com o socorrista, atender a chamada, reagir a estímulos dolorosos ou não reagir de todo, dependendo da gravidade da permeabilidade do estado de consciência. Uma pessoa inconsciente pode ou não ter a respiração e circulação garantidas.
Após determinar o estado de consciência, as examinações primárias são realizadas de acordo com os seguintes princípios do protocolo internacional ABC:
A. Examinação e avaliação da obstrução das vias respiratórias e fixação manual da cabeça e da coluna (verificando se a língua está recolhida, se existe acumulação de sangue na boca ou nas vias aéreas profundas, conteúdos estomacais, corpos estranhos ou pedaços partidos de próteses). Se a língua está caída é necessário atirar a cabeça da vítima para trás. Se um corpo estranho está a bloquear as vias respiratórias deve ser removido.
B. A verificação da respiração não deve demorar mais de 10 segundos. A confirmação de respiração deve incluir o seguinte protocolo de salvamento:
• Escutar para perceber se a vítima respira;
• Observar se o peito se move;
• Verificar o movimento do peito debaixo do braço.
Em primeiro lugar, o socorrista aproxima a bochecha da boca e nariz da vítima. Depois, aproxima a cabeça do peito e da cabeça- A respiração é controlada pelo princípio: “Eu vejo, eu ouço, eu sinto”. É verificada a frequência dos movimentos do peito (rápidos ou lentos), a profundidade da respiração (superficial ou profunda) e a abertura das narinas, ouve-se a qualidade da respiração (fácil ou difícil, assobios/grunhidos) e sente-se a ar expirado na bochecha colocada por cima dos lábios da vítima.
C. Verificação da circulação (teste de batimento cardíaco) é normalmente realizada pelo toque do pulso com as maças do rosto ou por dois dedos juntos nos seguintes locais:
• Primeiro na artéria carótida, na cavidade entre a maçã de Adão e os músculos do pescoço (carotis communis), esquerda ou direita;
• Por cima da artéria carótida (radialis), na zona do pulso e antebraço;
• Em bebés e crianças a verificação é feita pela escuta do batimento cardíaco debaixo do mamilo esquerdo, pressionando a orelha contra o peito.
A verificação da circulação deve tomar no máximo 10 segundos. Não é recomendado que pessoa não-médico faça esta verificação pois tomará muito mais que 10 segundos.
Antes da examinação secundária detalhada, se a vítima estiver inconsciente, mas a sua respiração e pulso existirem e, desde que não haja ferimentos da medula espinal, é necessário colocá-la de lado, numa posição lateral estável que permita de forma fácil manter as vias respiratórias abertas.
Esta examinação depende da condição geral da vítima e dos mecanismos da possível lesão. No caso de um mecanismo de lesão generalizado (e.g., acidente de carro), uma “examinação rápida dos pés à cabeça” é efetuada, procurando por informação sobre a situação e problemas. Se o mecanismo de lesão é local (queimaduras, cortes), realiza-se também uma “revisão focada” além da procura por informação sobre a situação e problemas. Remover as roupas e outros impedimentos de cima da vítima permite desobstruir o acesso e visibilidade a todas as partes do corpo.
Uma examinação geral do corpo todo “dos pés à cabeça” permite identificar ferimentos abertos ou fechados, bem como outras condições, escondidas ou de difícil acesso, fazendo uso de todos os sentidos do socorrista. Este deve permanecer com a vítima até à chegada da ambulância, verificando constantemente os seus sinais vitais.
O socorrista examina os lados esquerdo e direito da vítima com ambas as mãos pela seguinte ordem: cabeça, pescoço, costas e coluna, tronco, extremidades superiores e inferiores, da seguinte forma:
• Cabeça e pescoço – sentir com as mãos com bastante cuidado, sem demasiada pressão, passando pelo escalpe e o cachaço da vítima, onde deve procurar por ferimentos;
• Coluna espinal, especialmente se a pessoa estiver inconsciente. Verificar gradualmente e de forma pormenorizada se as seguintes partes da cabeça estão lesionadas:
o Crânio – inchaço visível, hemorragia externa, amolgadelas, zonas doridas;
o Olhos – observar o tamanho das pupilas (se estão diferentes é, provavelmente, um sinal de ferimentos na cabeça) e a simetria (pupilas normais são proporcionais), avaliar a reação à luz (pupilas normais reduzem com a luz), verificar se os olhos têm algum corpo estranho, procurar por hemorragias ou descoloração dos brancos;
o Nariz – procurar sangramentos, fraturas, corpos estranhos, descarga de fluido cefalorraquidiano pelo nariz, o que são sinais de lesões cerebrais;
o Boca – verificar sangramentos e corpos estranhos, bem como a humidade da boca e a coloração dos lábios (palidez significa hemorragia, enquanto que tons azuis nos lábios espelham falta de oxigénio); registar a respiração da vítima;
o Orelhas – verificar a presença de corpos estranhos e sangramentos que significam lesões no tímpano ou no cérebro, verificar a audição e vazamento de fluídos claros ou sangue;
o Cara – observar a cor da pele e das membranas mucosas (normal, pálida, vermelha ou cinzenta-azulada), temperatura e humidade da pele (fria, quente, seca, húmida), sangue à volta dos olhos, bem como se a pele está coberta de suores frios ou quentes.
o Coluna espinal – examinar primeiro a existência de pontos de dor e de punção e observar feridas, corpos estranhos ou inchaços ao longo de toda a coluna. Suspeitando-se de um ferimento, evita tocar-se para não agravá-lo. Se não se entende que haja lesões na coluna óssea, composta por vertebras interconectadas nas quais a espinal medula está localizada, deve deslocar-se a mão pelas costas da vítima, percorrendo as vértebras com os dedos (como a tocar piano);
o Peito – estimar a frequência, profundidade e modo da respiração – fácil, difícil, alta, inaudível; observar o levantamento do peito, se se levanta de forma simétrica e uniforme nos dois lados, se as narinas se expandem, se existem assobios pela boca ou nariz, se há grunhidos ou se as bochechas se movem. Depois procura-se por costelas partidas (dor aguda durante a inspiração sugere a existência de costelas fraturadas) e sinais de hemorragia, nódoas negras e feridas;
o Abdómen – seguir os sinais de hemorragia interna através da palpação do pulso e verificar se há sensibilidade dolorosa, bem como tensão dos músculos na parede abdominal;
o Examinar as saliências da pélvis, ancas e lombar com pressão moderada na palma da mão para perceber se há fraturas fechadas. Tocar nas saliências da anca, pélvis e osso púbico, devendo a pélvis ser pressionada levemente para dentro com o pulso para provocar uma reação de dor que será um sinal de fratura. Por fim, observa-se se existem hemorragias visíveis da bexiga ou abertura anal;
o Extremidades superiores – verificar primeiro a pulsação na artéria carótida, observar feridas visíveis, procurar por corpos estranhos (vidro, aparas metálicas, etc.) e grandes inchaços. Depois examinação a perceção do toque por parte da vítima e se esta sente formigueiros ou calor. Pede-se também à vítima que levante a mão, que a dobre para o cotovelo e mexa os dedos. Se as pontas dos dedos estão pálidas ou de um cinzento-azulado, é possível que a circulação periférica esteja perturbada (por exemplo, devido a fraturas ósseas). É também verificada a cor das unhas. Tem-se especial atenção se a pessoa é toxicodependente, i.e., procurar por sinais de picadas nas veias ou nas mãos;
o Extremidades inferiores – verificar pontos doridos, a presença de corpos estranhos e feridas (hemorragia ativa) nas pernas, sem remover os sapatos. Verifica-se depois a mobilidade (dobrar a perna no joelho, mover o tornozelo e os dedos) e a sensibilidade dos pés e por fim, observar a cor das unhas e da pele dos dedos (cinzento-azulado pode indicar distúrbios circulatórios ou lesões relacionadas com o frio);
Normalmente é suficiente remover as roupas das partes do corpo feridas. É também comum que seja necessário aliviar a pressão de roupas justas. Se as roupas ou calçado não puderem ser removidos sem mover a vítima, ou se houver risco de piorar o ferimento, estas devem ser retiradas ao rasgar-se pelas costuras ou cortando (tesoura, faca, lâmina) no formato de janela.
Para remover casacos, camisolas e camisas de forma apropriada quando estamos perante lesões dos membros superiores, o braço ferido é apoiado primeiro. A remoção das roupas começa no ombro pela mão saudável, sendo depois puxada gentilmente pela mão ferida.
A remoção apropriada de sapatos, meias e calças para lesões das extremidades inferiores começa com o suporte da perna ferida. Primeiro, abre-se o cinto das calças e estas puxam-se gentilmente. Os sapatos removem-se facilmente ao segurar pelo tornozelo. Se a vítima tiver botas altas estas são cortadas.